terça-feira, 8 de janeiro de 2013

O GRANDE BLASFEMADOR

Fazia mais de uma semana que o greyhound estivera navegando precariamente pela tempestade que fustigava o Atlântico Norte. As velas de lona estavam rasgadas e a madeira de um lado do navio fora arrancada e dilacerada. Os marinheiros tinham pouca esperança de sobrevivência, mas operavam mecanicamente as bombas, tentando manter a embarcação flutuando. No décimo primeiro dia da tempestade, o marinheiro John Newton estava muito cansado para bombear. Por isso, foi amarrado ao leme do navio para tentar manter o navio no curso. De 13 horas até meia-noite ele ficou no leme do navio.

Com a tempestade assolando furiosamente, Newton teve tempo de pensar. Sua vida estava tão arruinada e destruída como o navio avariado que ele pilotava pela forte tempestade. Desde os 11 anos de idade ele vivia no mar. Os marinheiros não se destacavam pelo requinte dos bons modos, mas Newton tinha a reputação de ser profano vulgar e libertino a ponto de chocar até os marinheiros.

Ele era conhecido como “ o Grande Blasfemador”. Decaiu a tão baixo nível que por breve período de tempo chegou a ser escravo de escravos na África. Sua mãe orara para que ele se tornasse ministro e desde cedo lhe ensinara as Escrituras e o livro de poesias “Divine Songs for Children” (divinas Canções para Crianças), de Isaac Watts. Agora lhe ocorriam alguns desses ensinos de infância. Ele se lembrou de Provérbios 1.24-31, e, no meio dessa tempestade, esses versículos confirmavam seu desespero: “mas, porque clamei, e vos recusastes; [...] antes, rejeitastes todo o meu conselho e não quisestes a minha repreensão; também eu me rirei na vossa perdição e zombarei, vindo o vosso temor, vindo como assolação o vosso temor, e vindo a vossa perdição como tormenta, vos sobrevindo aperto e angustia. Então, a mim clamarão, mas eu não responderei”.

Newton rejeitara os ensinos maternos e levava outros marinheiros a incredulidade. Claro que não havia mais esperança e nem salvação para ele, ainda que as Escrituras fossem verdadeiras. Contudo, os pensamentos de Newton passaram a concentrar-se em Cristo. Ele achou um Novo Testamento e começou a ler. O texto de Lucas 11.13 dava a entender que Deus ainda poderia ouvi-lo, “pois, se vos, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais Dara o Pai celestial o Espírito Santo aqueles que lho pedirem?”

Aquele dia no leme do navio, 21 de março de 1748, foi um dia que Newton jamais esqueceu, pois “naquele dia o Senhor veio do alto e me livrou das águas profundas”. Muitos anos mais tarde, Newton, já idoso, escreveu no seu diário de 21 de março de 1805: “quase não consigo escrever; mas me esforço a observar a volta deste dia com humilhação, oração e louvor”. Só a maravilhosa graça de Deus poderia tomar um marinheiro rude, profano e traficante de escravos para transformá-lo em um filho de Deus. Newton nunca deixou de maravilhar-se respeitosamente com a obra de Deus em sua vida.

Embora continuasse por certo tempo na profissão de navegar e traficar escravos, sua vida fora transformada. Disciplinado, ele separou um horário para estudo da Bíblia, oração e leitura cristã, e procurou ser um exemplo cristão para os marinheiros sob o seu comando. O livro the rise and progress religion in the soul (a ascensão e progresso da religião na alma ), de Philip Doddridge, proporcionou-lhe muito consolo espiritual, e um capitão cristão que encontrou ao largo da costa da África orientou Newton ainda mais na Fé cristã.

Newton deixou de traficar escravos e trabalhou como inspetor de maré em Liverpool. Ele começou a considerar que fora chamado para o ministério. As orações de sua mãe foram respondidas. Em 1764, com 39 anos de idade, John Newton iniciou 43 anos de pregação do evangelho de Cristo.

Newton viveu ate aos 82 anos de idade e continuou pregando e tendo um ministério ativo ate ser atacado por problemas de saúde nos últimos dois ou três anos de vida. Mesmo assim, Newton nunca deixou de ficar pasmado com a graça de Deus, falando para os amigos: “quase não tenho mais memória; mas me lembro de suas coisas: que eu sou um grande pecador e que Jesus é um grande Salvador”.



Trecho: livro: Quando filhos bons fazem escolhas ruins, Ed.CPAD, Fitzpatrick Elyse, pag.185